data-filename="retriever" style="width: 100%;">Não vivemos apenas nossas próprias vidas individuais, estamos imersos dentro da vida que caracteriza uma determinada época, com suas crenças, costumes, conhecimento, etc.
Nossa época traz dentre suas características a necessidade (falsa ou não) de acumular riqueza e a tendência infindável de desejos a serem satisfeitos em série crescente. Sempre há algo mais a desejar, portanto a insatisfação é permanente. O desejo de ter mais não é só para fruir o objeto desejado e geralmente para ostentar poder.
O poder distingue dos demais. O poderoso está num lugar invejável e, só porque tem poder (representado por dinheiro e outras posses), julga-se no direito de desprezar os que têm menos e desconsiderar a realidade e condições do outro.
A vida está transformada numa grande competição, como se fosse uma maratona infinita, corremos com muitos correndo atrás e outros tantos a nossa frente. Não há um "pole position", porque sempre haverá alguém mais rico e poderoso do que aquele que aparentemente está à frente. A grande massa sabe que não vai estar jamais no pelotão de frente, mas faz o possível e o impossível para ultrapassar os que estão mais próximos e para evitar que aqueles que estão atrás o ultrapassem.
Esta corrida maluca não tem vencedor, todos são perdedores, pois sempre haverá muitos correndo a nossa frente, mas a ilusão do poder faz com que percamos limites da fraternidade e, se necessário, que se sacrifique (por qualquer tipo de artifício) quem não se deixe ultrapassar, mas principalmente aqueles que, vindo de trás, tentam a ultrapassagem. Como na poesia de Paulinho da Viola, "dinheiro não mão é vendaval, irmão desconhece irmão", estamos de alguma forma voltando à barbárie.
Às vésperas do Natal, quando todos verbalizamos votos de paz e solidariedade, poucos não se deixam levar pelo consumismo e ostentação de alguns. Embora durante o ano se ignore desvalidos da sorte, nestes dias aliviamos nossas consciências ofertando um brinquedo a uma criança com fome, ou presenteando algum alimento para que um infeliz possa num só dia do ano saciar a sua fome.
A maneira de entender o Natal é o reflexo de nossa época. É cada vez menos a comemoração do nascimento de Jesus de Nazaré para, cada vez mais, caracterizar-se como uma festa pagã, como a que festejava o solstício de inverno no dia 25 de dezembro, quando, no século IV, a Igreja Católica Romana fixou a data da natividade neste dia.
A história se repete em ciclos. Esperemos que venha uma época em que a vida deixe de ser uma corrida sem vencedores para lugar nenhum, quando possamos redescobrir a verdadeira fraternidade.